sábado, 12 de novembro de 2011

Terreiros de Umbanda protestam contra intolerância de evangélicos

Terreiros de religiões de matriz africana do bairro do Engenho Velho da Federação, em Salvador, vão realizar uma caminhada contra a intolerância na próxima terça-feira (15/11), às 14h. Os líderes religiosos protestarão contra os ataques de igrejas neopentecostais.


- Nas rádios, eles nos atacam todos os dias e todas as horas. Não sou cão, não sou demônio, como eles dizem. Os neopentecostais são mais radicais. A gente quer respeito. Não invadimos as atividades deles - critica a Yalorixá Valnizia de Ayra, do Terreiro do Cobre.


Mãe Valnizia relata que os frequentadores do terreiro são abordados por fiéis da Igreja Universal do Reino de Deus, com panfletos e alertas como: "Não vá, é um lugar do demônio".


- Não temos que conviver com isso. Uma vez, tivemos que dar uma queixa. Mas o problema desse tipo de denúncia é que é tudo evangélico na prefeitura. O prefeito (João Henrique) é evangélico. A Sucom (Superintendência de Controle e Ordenamento do Uso do Solo) é de evangélico. A denúncia não vai adiante - conta Mãe Valnizia.


A "VII Caminhada contra a violência, a intolerância religiosa e pela paz" reunirá terreiros de candomblé, umbanda e culto aos caboclos, além de organizações da sociedade civil. A marcha sairá da Praça Mãe Runhó.








TERREIRO DEMOLIDO


O terreiro Oyá Onipó Neto, localizado há mais de 29 anos na Avenida Jorge Amado, em Salvador, foi parcialmente demolido em 27 de fevereiro, o que provocou polêmica e uma série de manifestações contra a intolerância religiosa. A responsável por autorizar a demolição, Kátia Carmelo, foi exonerada do cargo de chefia da Superintendência de Controle do Uso do Solo do Município (Sucom) e o prédio está sendo reconstruído.


De acordo com a prefeitura, a demolição foi ordenada por um suposto problema na escritura. Em nota, Kátia Carmelo disse que percebeu ter havido excesso na ação dos prepostos da Sucom, pediu desculpas e que "não é dada a preconceitos, muito menos religiosos."


Alguns dias após a derrubada do prédio, o prefeito de Salvador, João Henrique Carneiro, pediu desculpas pelo ocorrido, em público, e anunciou que o templo seria reconstruído. Segundo a mãe-de-santo Rosalice Santos do Amor Divino, de 50 anos, uma construtora, cujo nome é mantido em sigilo, assumiu a obra.


Mãe Rosa, como é conhecida em Salvador, disse que espera poder realizar suas atividades religiosas o mais breve possível. "Não vejo a hora de poder entrar novamente no templo. Afinal de contas, estou no local há quase 30 anos. Felizmente recebemos apoio de diversos religiosos, de todos os credos possíveis. O que aconteceu não poderia ter acontecido."


Marcos Rezende, de 33 anos, conselheiro da Secretaria Nacional de Direitos Humanos, fez cinco dias de greve de fome como protesto até a solução do caso. "Só encerrei a greve de fome depois de receber a garantia de que a administração municipal pediria desculpas e reconstruiria o templo. Além disso, será preciso repensar a situação imobiliária de muitos outros templos religiosos, sejam eles de qualquer natureza."








Castigo do céu


Para Rezende, o efeito da destruição do terreiro veio dos céus logo no dia 28 de fevereiro. "Neste dia, uma chuva, como há muito tempo não se via em Salvador, provocou estragos na cidade. Foi a resposta dos orixás. Como religiosos, achamos que isso foi um clamor de Iansã e Xangô por Justiça", disse. Segundo ele, todos os quartos dos orixás foram derrubados na ação da Sucom. "A única imagem que caiu do barracão foi o orixá da Justiça (Xangô). Iansã é o orixá das ventanias e tempestades. Xangô também é o orixá dos raios e dos trovões. Por isso, achamos que o temporal que caiu em Salvador um dia após a derrubada do terreiro foi uma resposta contra a intolerância religiosa", afirmou.




Rezende disse, ainda, que vários prédios da capital baiana têm problemas com a escritura e que isso não justificaria a ordem de demolição.


Para Almiro Sena, promotor de Controle à Discriminação e Intolerância Religiosa de Salvador, a derrubada do terreiro foi um ato arbitrário e inconstitucional. "O prefeito já sinalizou a reconstrução do terreiro, mas Kátia Carmelo, responsável pela demolição do prédio, ainda pode responder por crime de intolerância religiosa. O dano religioso é irreversível", disse o representante do Ministério Público.


A Sucom informou que a responsável pela ordem de demolição foi exonerada dois dias depois do ocorrido.


Do portal Terra

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