sábado, 7 de julho de 2018

Missa evocará os 15 anos da morte do ex-governador Tarcísio Burity

Uma missa mandada celebrar pelos familiares – Glauce Navarro Burity e os filhos Tarcísio, Maurício, Leonardo e André Luís, além de netos, noras e irmãos, evocará o transcurso, amanhã, dos quinze anos da morte do ex-governador Tarcísio de Miranda Burity, no dia 08 de julho de 2003 no Instituto do Coração em São Paulo, vítima de infarto do miocárdio decorrente de insuficiência cardíaca grave. O ato religioso será celebrado às 10h30 de amanhã na Igreja Nossa Senhora do Carmo, em João Pessoa. Burity governou o Estado por duas vezes, na primeira escolhido por via indireta pelo presidente Ernesto Geisel, em 1978, e na segunda eleito pelo voto direto, em 1986, derrotando Marcondes Gadelha com uma vantagem de 296 mil votos. Burity foi, também, deputado federal e secretário de Educação do Estado no governo Ivan Bichara.


Atribui-se ao ex-ministro José Américo de Almeida influência decisiva na indicação de Burity em 78. Na época, Burity era professor universitário na Paraíba e tornou-se conhecido pela atuação como secretário de Educação. Não tinha qualquer militância política. Foi ungido governador como “tertius” em meio a um impasse verificado na antiga Arena, partido de sustentação do regime militar, com a disputa intestina entre Antônio Mariz e Milton Cabral, que enfrentavam restrições do regime militar. Quando Burity foi anunciado, Mariz decidiu enfrentá-lo em convenção do partido, contando com forte respaldo popular. Burity, entretanto, foi sacramentado governador, empossando-se em 1979 tendo como vice Clóvis Bezerra Cavalcanti. Quando do resultado que apontou sua derrota na convenção, Mariz declarou à Rede Globo Nordeste, do Recife: “Machado de Assis afirma, num dos seus romances: ‘ao vencedor, as batatas’. E eu acrescento: as quentes”. Mariz e Burity, não obstante, respeitavam-se pelos dotes intelectuais. Na década de 90, Burity foi alvejado por tiros disparados pelo então governador Ronaldo Cunha Lima, no restaurante “Gulliver”, na orla marítima da capital paraibana. Ronaldo responsabilizava Burity por orquestração contra a sua família, especialmente contra o filho, Cássio Cunha Lima, hoje senador, no período em que este foi superintendente da Sudene. Ronaldo pediu perdão publicamente a Burity e desejava encontrá-lo pessoalmente para a reparação, mas a família de Burity não concordou, alegando emoções fortes que ele teria, diante das sequelas dos disparos efetuados. Em todo caso, ficou registrado que Burity perdoava o ex-governador Ronaldo Cunha Lima.

Num depoimento ao jornalista Severino Ramos, em 1996, Burity contou sua versão definitiva para a escolha indireta ao governo do Estado. “Eu não movi uma palha para ser indicado. Acredito que minha candidatura tenha sido uma decisão pessoal do presidente Ernesto Geisel. Algum tempo depois de eleito, indaguei a ele como tinha sido a minha escolha e ele revelou que havia recebido uma lista com cinco nomes e analisou o currículo de cada um, decidindo-se pelo meu nome. Como havia uma disputa acirrada entre Mariz e Milton Cabral, com Ivan Bichara de um lado, Ernani Sátyro e João Agripino de outro, Geisel, Figueiredo e Golbery do Couto e Silva decidiram pela indicação de um terceiro nome, visando a pacificação da Arena na Paraíba. Mas essa pacificação não aconteceu porque Mariz manteve-se intransigente, rebelou-se contra a decisão do Planalto e levou sua candidatura para a convenção do partido”, narrou Burity.

A primeira gestão de Tarcísio Burity foi considerada exitosa, com investimentos em realizações de vulto como o Espaço Cultural e o Mercado de Artesanato, em João Pessoa, além da viabilização do bairro de Intermares, em Cabedelo. No sertão, Burity ganhou popularidade quando bancou, com recursos do Estado, a assistência a flagelados da estiagem, numa das piores secas que a Paraíba enfrentou. No segundo governo, enfrentou oposição violenta na Assembleia Legislativa, sofreu boicote de parlamentares do PMDB em Brasília quanto à liberação de empréstimos para a Paraíba, atrasou o pagamento do funcionalismo público e teve o dissabor de testemunhar o fechamento do Paraiban pelo governo de Fernando Collor de Mello, através de liquidação extra-judicial. Burity praticamente dominou a cena política da Paraíba na década de 80. Como deputado federal, foi dissidente da Arena-PDS, integrando um bloco renovador na Câmara. Como governador, já no primeiro mandato, pregou a convocação de uma Assembleia Nacional Constituinte e a concessão de anistia aos opositores do regime militar, temas que ainda eram considerados tabus. Ingressou no PMDB na undécima hora, em 86, para assumir a candidatura ao governo substituindo a Humberto Lucena, que havia sido internado em São Paulo. Obteve vitória acachapante, que fez Humberto considerá-lo “um fenômeno da política”. Burity, no entanto, não deixou herdeiros políticos.

Nonato Guedes

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