quinta-feira, 23 de outubro de 2025

Manuel Camilo dos Santos: o poeta popular que encantou o Brasil e eternizou suas raízes nordestinas


 Manuel Camilo dos Santos

Cantador violeiro, poeta popular, tipógrafo, xilógrafo, horoscopista, escritor e editor. Em 1975 recebeu o diploma de melhor poeta popular do Brasil.

Naturalidade: Guarabira – PB

Nascimento: 09 de junho de 1905 / Falecimento: 08 de abril 1987

Atividades artístico-culturais: Cantador violeiro, poeta popular, tipógrafo, xilógrafo, horoscopista, escritor e editor.

Publicações: Primeiros folhetos: O Romance de Abel com Margarida e Peleja com Pedro Simão; Livros de Poesia: Autobiografia do poeta (1979); O caboclo do bode (1974)¸Viagem a São saruê, obra traduzida para o francês (1956); O Sabido sem estudo (1955).

Homenagens, títulos e prêmios:

1955 – Recebeu o Diploma no Congresso de Poetas e Repentistas de Salvador-Bahia.

1960 – Diploma no Segundo Congresso de Poetas e Violeiros de São Paulo-SP;

1975 – Diploma de melhor poeta popular do Brasil e prêmio de cinco mil cruzeiros concedidos pela Universidade Regional do Nordeste, em solenidade no Museu de Artes Assis Chateaubriand em Campina Grande-PB;

1978 – Patrono da Casa de Cultura São Saruê, cujo nome é uma referência ao poema “Viagem a São Saruê”, no Rio de Janeiro-RJ.

Manuel Camilo dos Santos foi criado na agricultura, mas a partir dos 18 anos dedicou-se ao comércio ambulante juntamente com o seu pai. Em 1936, já morando na capital João Pessoa e trabalhando como marceneiro, adotou a cantoria como profissão, porém em 1940 abandona o ofício, transfere-se para Campina Grande e lá inicia sua vida de poeta popular.

Em 1942, instalou em Guarabira, numa pequena e rudimentar tipografia, a “Folhetaria Santos”. Em 1953 a folhetaria foi transferida para Campina Grande com o nome “A Estrela da Poesia”.

No ano de 1975, Manuel Camilo dos Santos recebeu o diploma de melhor poeta popular do Brasil.

Tendo publicado, de autoria própria, mais de 150 folhetos, teve como obra-prima, segundo o pesquisador Atila de Almeida, o folheto Viagem a São Saruê, que teve uma versão para o idioma francês “Voyage a São Saruê”, feita pela professora Idelete Muzart. Orígenes Lessa o chamava de “outro gigante do Nordeste” ou “uma das mais extraordinárias figuras dessa literatura – de cordel”.

Muitos foram os seus títulos reeditados: O clássico “Viagem a São Saruê”, As palhaçadas de Biu, O sabido sem estudo e O filho de Garcia, entre outros. Se no primeiro folheto o autor se desvia das temáticas tradicionais (cangaço, pelejas, religião), e viaja em sonhos que, segundo Orígenes Lessa, é uma versão sertaneja do Vou-me embora pra Pasárgada, de Manuel Bandeira; no último folheto, conforme a opinião de Augusto de Campos, ele produz um poema de vanguarda, uma “concreção”.

Foi membro fundador da Academia Brasileira de Cordel, onde ocupou a cadeira nº25.

Como viveu grande parte de sua história na cidade de Campina Grande-PB, em sua homenagem, durante os festejos do Maior São João do Mundo, no Arraial Sítio São João, é instalada uma casa-folhetaria na qual ficam abertos para visitação pública peças e maquinários da Estrella da Poesia.

Manuel Camilo conviveu com intelectuais, tais como: Ariano Suassuna, João Silveira, Orígenes Lessa, Sebastião José do Nascimento, entre outros. Dialogando também com intelectuais da literatura cordelista, entre os quais destacamos Manoel Caetano e Zé Nogueira.

O poeta discutiu em suas obras determinados temas com raízes nordestinas, entre eles: o cangaço, a seca, o matuto, a fome, etc. Ele conferiu a seus cordéis, temáticas próprias da região Nordeste, percebendo-se que em centenas deles, essas temáticas se destacam (GOMES; BEZERRA, 2015).

Com relação às temáticas por ele exploradas em sua produção, destacamos dois cordéis romances, entre eles: “A Bela Sertaneja” e “Amantes Encarcerados”; histórias do cangaço, como o “Terror do Banditismo” e “Monstros da Paraíba”; aventuras, como “As aventuras de Pedro Quengo”; pelejas, como “A primeira peleja de Manoel Camilo dos Santos como Romano Elias”; religiosidade como “Nascimento vida e morte de Jesus”; entre outros cordéis (GOMES; BEZERRA, 2015).

Segundo Orígenes Lessa, o poeta Manuel Camilo é “uma das mais extraordinárias figuras dessa literatura tão rica de colorido e tão inesperada beleza e de inspiração”. Orígenes Lessa.

Autobiografia do Poeta

(…) Deus a todos deu um dom

para com ele viver.

quem logo acertar com o seu

vive bem e tem prazer

e o que não acertar

só leva a vida a sofrer.

Uns têm o dom para artes

outros para a agricultura.

já outros para a ciência

porém outros é pra leitura.

enquanto uns vivem da música

outros exercem a pintura.

Alguns têm o dom profético

outros o dom da cirurgia

uns têm o dom de comércio

o meu dom é poesia.

e nele graças a Deus

vivo bem, tenho alegria.

Cada um para o que nasce

apoiado este dizer.

mas muitos deixam o seu dom

pensando enriquecer.

vão procurar longe

onde só acham o sofrer.

Viagem a São Saruê

Doutor mestre pensamento

me disse um dia: – Você

Camilo vá visitar

o país São Saruê

pois é o lugar melhor

que neste mundo se vê.

Eu que desde pequenino

sempre ouvia falar

nesse tal São Saruê

destinei-me a viajar

com ordem do pensamento

fui conhecer o lugar.


Iniciei a viagem

as quatro da madrugada

tomei o carro da brisa

passei pela alvorada

junto do quebrar da barra

eu vi a aurora abismada.


Pela aragem matutina

eu avistei bem defronte

a irmã da linda aurora

que se banhava na fonte

já o sol vinha espargindo

no além do horizonte.


Surgiu o dia risonho

na primavera imponente,

as horas passavam lentas

o espaço encandescente

transformava a brisa mansa

em um mormaço dolente.


(p. 1)

[…]

Este folheto traz nuances de um imaginário, remontando a uma terra que esbanja fartura, lugar impossível de existir, exalando paralelamente uma utopia, que se entrelaça em seus escritos.

 Fonte Paraíba Criativa

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