Quase 70 anos separam gerações de candidatos a prefeito do País

Dos mais de 15 mil candidatos a prefeito nestas eleições, 50% estão na faixa etária característica dos políticos: de 45 a 59 anos. Se é uma fase da vida que inspira confiança ou maturidade, talvez só uma pesquisa aprofundada possa dizer. Fato é que, no extremo das experiências e fases da vida, o candidato a prefeito mais novo (com 20 anos) e o mais velho (89) do Brasil do também estão no páreo - e querem brigar de igual pra igual.

Elvson Batista (PSDB), ou Marquinho do Cabo, como também é conhecido, completa 21 anos em novembro, quando já saberá o resultado de sua primeira eleição. De cara, ele concorre à prefeitura de Traipu, cidade do agreste alagoano. Já é pai e, por enquanto, não trabalha - mas já planeja estudar Administração na faculdade.

Com uma fala pausada, como se pensasse duas vezes antes de responder uma pergunta e ainda tentasse se acostumar com a vida de candidato, Elvson explica que sua candidatura foi algo "natural", após acompanhar, desde criança, a agenda dos tios que já foram vice-prefeito e vereador na cidade.

"Surgiu essa oportunidade, juntamente com os correligionários. Me filiei ao PSDB ano passado. Comentaram essa possibilidade, uma aposta em um rosto novo. Fiquei um pouco surpreso pela juventude que tenho, mas sempre quis participar de reuniões políticas", explica.

Elvson tem cerca de 1,50 m de altura. "Parece que tem 16 anos", brinca uma das lideranças do PSDB na região. O candidato, porém, já sobe o tom e evoca a novidade como justificativa para sua candidatura. "Hoje a situação do nosso município é de instabilidade. Nossa cidade está sem acreditar nos candidatos. Só que eles têm uma campanha milionária, que ninguém sabe da onde surge o dinheiro. Hoje a gente tenta passar a nossa confiança através dos jovens. Coloquei meu nome, estou aí para essa vaga, para tentar combater a corrupção no meu município", explica.

O candidato de 20 anos concorre contra Marcos Santos (PTB), prefeito afastado do cargo e preso cinco vezes pela Polícia Federal, e contra a atual prefeita, Conceição Tavares (DEM).

A lei eleitoral permite que o candidato tenha pelo menos 21 anos para se eleger prefeito. Para vereador, é menos: aos 18 anos você já pode ser candidato. Quando o cargo cresce, a idade mínima exigida aumenta: se você tem menos de 30, não poderá ser governador. Para presidente e senador, é preciso esperar chegar aos 35 anos. Ser jovem, para Elvson, o ajuda na campanha. "Pelo menos meu nome é limpo", garante.

Candidato mais velho: ser jovem é ser capaz de aprender

De Aguaí, interior de São Paulo, Sebastião Biazzo (PMDB) rebate e afirma que a idade do prefeito não determina o futuro de uma cidade. Para ele, como o ditado diz, ser jovem é um estado de espírito. "Uma pessoa permanece jovem na medida em que ainda é capaz de aprender, adquirir novos hábitos e tolerar contradições", diz.

Com uma diferença de 69 anos de Elvson, Tião Biazzo, 89, é o candidato mais velho para prefeito nessas eleições, segundo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Ele concorre (pela 10ª vez) à prefeitura de Aguaí e afirma que enfrenta certos preconceitos, mas não cita quais. "Preconceitos existem, porém acredito no reconhecimento de toda população de Aguaí por tudo o que já foi feito, e por tudo o que ainda posso fazer, pois todos conhecem a minha história de dedicação e amor pela minha cidade", discursa.

Com superior completo, Biazzo é empresário e foi prefeito de Aguaí pela primeira vez em 1960 aos 37 anos. Repetiu a façanha em 1969, 1983, 1993 (quando Elvson, lá em Alagoas, tinha apenas 2 anos) e 2005. Isso sem contar as outras quatro que disputou, mas não venceu. A primeira eleição, porém, foi em 1951, aos 28.

Conhecido por ser "turrão e não gostar de dar entrevistas", segundo secretária de uma das empresas de Biazzo que o Terra tentou contato, o candidato aceitou falar por e-mail, em conversa intermediada por um sobrinho. Com mais de meio século de vida pública - passando por redefinições políticas importantes no País -, Tião avalia: a política "piorou muito". "Naquele tempo não havia tanta corrupção e escândalos quanto nos dias atuais. Um grande problema hoje é com relação a obras terceirizadas e feitas por empreiteiras, pois muitas vezes a obra não tem boa qualidade e os preços são superfaturados", opina.

A idade avançada, porém, faz com que o medo diminua. "No meu caso, a grande vantagem é a experiência adquirida ao longo dos anos. Nada mais me assusta. Já passei por inúmeros desafios e superei todos", observa Biazzo. Mas prejudica na hora de fazer campanha. "A desvantagem, sem sombra de dúvidas, é que aos 89 anos de idade, já não posso mais ser tão disposto para fazer campanha como antes. Contudo, supero essa dificuldade com muita força de vontade e disposição", diz.

Se ganhar ou perder, Biazzo não pretende sair de cena. "Entendo que não existe idade para a pessoa parar de fazer o que gosta. Enquanto eu tiver saúde e disposição, estarei firme a serviço da população de minha cidade", afirma. E justifica sua candidatura - e, de quebra, a de Elvson: "Se for honesto, trabalhador e competente, a idade é o que menos importa".

Terra