domingo, 26 de abril de 2015

Paraibano de Caaporã é reconhecido por espalhar cultura brasileira nos Estados Unidos

Um paraibano nascido em Caaporã, no Litoral Sul do Estado, espalha a literatura e cultura brasileira nos Estados Unidos (EUA). Domício Coutinho iria ser padre, mas lhe aconteceram as mulheres. Pensou depois tornar-se escritor, mas começou a ganhar dinheiro, muito dinheiro. Filho de mãe solteira no Nordeste dos anos de 1930, o jovem Coutinho nunca imaginou viver em Nova York e fundar a Brazilian Endowment for the Arts (BEA), instituição que divulga a cultura brasileira na principal cidade norte-americana.

Mas foi justamente o que aconteceu. “O Brasil está na boca do mundo. A comida, o Carnaval, a música, as meninas, tudo é celebrado, mas a nossa literatura infelizmente não é”, explica o brasileiro no meio dos 6.000 volumes da Biblioteca Machado de Assis, uma das raras bibliotecas de literatura brasileira nos EUA abertas ao público e que está instalada em Manhattan.

Com cerca de 35 escritores associados e centenas de eventos realizados nos últimos dez anos, a BEA atrai muitos visitantes brasileiros. Coutinho sabe que o seu trabalho não está terminado e que, aos 83 anos, poderá não viver para testemunhar o reconhecimento que sonha para a literatura do Brasil. “A minha família, os meus filhos, têm instruções para continuar este trabalho”, diz.


O ex-seminarista nasceu três meses depois do pai ter morrido. Com sete filhos para criar, a mãe deixou a pequena cidade de Caaporã e foi para Pernambuco. Aos 12 anos, o paraibano entrou para um seminário e dez anos mais tarde foi para Roma estudar na Pontifícia Universidade Gregoriana, até que viajou com um amigo pela Europa e na Áustria conheceu o primeiro amor. “Senti que não era vida para mim”, explica.

Durante três anos, Coutinho trocou cartas de amor com uma jovem austríaca e quando retornou ao encontro da moça, o romance terminou e ele partiu para Nova York, onde vive até hoje. Casou-se com uma brasileira e teve dois filhos. Depois de alguns anos de aluguel, decidiu comprar um edifício de três apartamentos no Queens por US$ 14 mil. Vivia em um e alugava os outros dois. Três anos depois, vendeu a casa por US$ 55 mil. Comprou outra, que tornou a vender.

Depois uma terceira, e outra, e outra. Fez fortuna. As casas dele rapidamente se tornaram pontos de encontro para os intelectuais da diáspora brasileira. O grupo cresceu e, anos depois, começou a reunir-se no consulado brasileiro em Nova York. No início dos anos 2000, o espaço era, muitas vezes, indisponível e começava a ser pequeno para os milhares de volumes que se acumulavam. Perto dos 70 anos, Coutinho já não alimentava a ilusão da infância de que seria um escritor de sucesso planejou lançar suas memórias, “Aventuras de um Pau-de–Arara”, que terminou como um livro de poemas. Além disso, ele publicou também um romance.

Obras brasileiras ainda são desconhecidas

Apesar de viver de forma simples, Domício Coutinho tinha acumulado fortuna e acabara de comprar um edifício no número 240 da rua 52, em Manhattan, que tinha o térreo vazio. Transformou o espaço em centro cultural.

Assim nasceu o BEA, em fevereiro de 2004. Na última década, a instituição organizou centenas de eventos: conferências, mostras de cinema, aulas de português e, nas últimas quartas do mês, uma noite literária. Apesar desses esforços, a esmagadora maioria dos norte-americanos desconhece os livros de Machado de Assis ou Guimarães Rosa.

Kenneth David Jackson, professor de português e literatura na Universidade de Yale, admira a luta de Coutinho, mas critica o Brasil por não ter uma representação oficial na cidade. “É anacrônico ver este esforço quixotesco, por um indivíduo sozinho, em um das capitais culturais do mundo.

A literatura brasileira não tem uma presença significativa nos EUA porque fica perdida na ideia de ‘literatura latino-americana’, que se entende ser em espanhol”. Coutinho concorda, mas diz que conhece a solução. “Nenhuma literatura é feita sem a ajuda de um grande agente literário. Isso tem faltado o tempo todo”.

PAIXÃO NACIONAL

Até esse dia chegar, outros aspectos da cultura brasileira vão prevalecer. Domício Coutinho lembra-se do dia em que um realizador entrou na BEA dizendo que iria filmar o Carnaval brasileiro. Coutinho perguntou-lhe qual seria o seu ângulo. “A bunda brasileira”, respondeu-lhe o norte- -americano, em português. Coutinho sentiu-se insultado, depois intrigado. O realizador esclareceu que a ideia partira de um ensaio do sociólogo Gilberto Freyre. Coutinho desconhecia a existência do texto e ligou para o neto de Freyre. Dias depois, tinha no correio uma copia de “Bunda – Paixão Nacional”. O paraibano achou a ideia menos absurda, mas ainda assim inaceitável. “O Brasil é muito mais do que bunda”, diz.


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3 comentários:

  1. maria do socorro26/04/2015, 22:48

    Nossa..., como há brasileiros por aí a fora fazendo a diferencia, engrandecendo o nosso país, pessoas assim são dignas da nossa admiração e respeito.
    Excelente reportagem.

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  2. maria do socorro26/04/2015, 22:55

    Legal ler uma excelente reportagem e quando é de brasileiros que engrandecem o nosso país, não há como não admirar e respeitar. Aplausos pra esse brasileiro \ paraibano que trabalha em prol da cultura brasileira.

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  3. maria do socorro27/04/2015, 09:01

    Orgulho pra todo brasileiro, ainda mais para os paraibanos que veem um cidadão de família simples, vencendo num país
    que se destaca entre nações desenvolvidas onde imigrantes não são bem vistos. Esse brasileiro é muito importante, é através dele que a cultura brasileira é conhecida por todos que lá vivem. Reportagem excelente, pena que nem todo brasileiro toma conhecimento.
    Parabéns Cristiano Alves por nos deixar a par de histórias de cidadãos que podem servir de exemplo a tantos brasileirinhos por esse país a fora.

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